Plâncton: A vida vagando no mar

Plâncton: A vida vagando no mar

Diversas formas de vida vagam pelo nosso oceano… muitas delas são errantes, levadas ao sabor das correntes, marés, ondas… e são chamadas de plâncton. A maioria destes organismos é tão pequena que não as enxergamos a olho nu (apesar de existirem representantes com mais de 2 metros). Em uma única gota de água do mar há mais vida do que você pode imaginar!

Plâncton
Amostra de plâncton vivo, vista em estereomicroscópio, representando a diversidade planctônica marinha. Fonte: Alvaro E. Migotto, Cifonauta/CEBIMar USP (CC BY-NC-SA 3.0)

O que é Plâncton?
A palavra plâncton deriva do grego “planktos”, que significa “errante; o que vaga; o que se desloca sem rumo“. Certos organismos recebem esse nome por ter pouca ou reduzida capacidade natatória e, por isso, acabam sendo levados pelas correntes marítimas. Desta forma, o termo plâncton engloba uma gama enorme de organismos, com representantes de vários filos. Para facilitar o entendimento, existem várias divisões para classificá-los, como por exemplo, relacionadas ao ciclo de vida, à taxonomia, ao habitat e à distribuição vertical e horizontal.

Quanto ao ciclo de vida, existem duas divisões: o holoplâncton e o meroplâncton.  Holoplâncton compreende os organismos que passam todo o seu ciclo de vida no meio planctônico e o meroplâncton compreende os organismos que passam apenas uma parte do seu ciclo de vida (por exemplo: durante as fases iniciais de seu desenvolvimento) no meio planctônico.

Quanto ao habitat, os organismos planctônicos podem ser encontrados em todos os ambientes aquáticos, portanto, existe plâncton em ambientes estuarinos, em ambientes marinhos, e até mesmo em água doce. São também encontrados em todas as profundidades, em maior ou menor abundância, devido às características do ambiente.

Plâncton
Imagem ilustrativa representando as zonas de distribuição no oceano. Fonte: Eduardo Donato Alves, 2018 ©

Já quanto à distribuição, os organismos que vivem sobre a plataforma continental (uma porção dos continentes que estão submersas) são chamados de plâncton nerítico e os organismos que vivem fora da plataforma continental [a partir da talude continental (o declive), o limite da placa continental submersa, até profundidades maiores, no leito do oceano) são chamados de plâncton oceânico. Diferentes estágios de desenvolvimento de um peixe, do ovo à larva (da direita para a esquerda). Peixes são exemplos de organismos meroplanctônicos, já que apenas as suas fases de ovo e larva são planctônicas. Fonte: Julian Uribe-Palomino.

Mas afinal, Plâncton é planta ou animal?
Dentro do plâncton há uma diversidade tão grande de grupos taxonômicos, e pode ser dividido em: bacterioplâncton, fitoplâncton, zooplâncton e, dentro de zooplâncton, o ictioplâncton. Os bacterioplânctons são os organismos unicelulares e anucleados que possuem estruturas semelhantes a qualquer bactéria. Este grupo é composto por bactérias e pelos organismos do Filo Cyanobacteria, também conhecidas como cianobactérias ou algas azuis. As cianobactérias são organismos fotossintetizantes, extremamente importantes por serem produtores de energia (glicose) a partir da fotossíntese (utilizando luz), sendo, portanto, a base da cadeia alimentar.

Diferentes estágios de desenvolvimento de um peixe
Diferentes estágios de desenvolvimento de um peixe, do ovo à larva (da direita para a esquerda). Peixes são exemplos de organismos meroplanctônicos, já que apenas as suas fases de ovo e larva são planctônicas. Fonte: Julian Uribe-Palomino/WikimediaCommons (CC BY 4.0)

Os fitoplânctons são organismos de vários filos, unicelulares (livres, coloniais ou filamentosos), que possuem núcleo, organelas complexas e que produzem seu próprio alimento (glicose = energia química potencial). Os organismos fitoplanctônicos são responsáveis por boa parte da produção do oxigênio que vai para a atmosfera e pela produção de matéria orgânica na base da cadeia alimentar marinha. Os principais representantes do fitoplâncton são as algas unicelulares (diatomáceas e clorofíceas) e alguns dinoflagelados.

As diatomáceas (também encontradas no meio bentônico), são facilmente diferenciadas por possuírem uma carapaça de sílica com aberturas radiais para a comunicação da célula com o meio. Os dinoflagelados, como o nome já diz, possuem um flagelo para auxiliar na locomoção. Uma característica importante desses organismos é que, em grande concentração, eles podem mudar a coloração da água, deixando-a com um aspecto avermelhado, fenômeno que é conhecido como maré vermelha.

Esses organismos liberam seus produtos metabólicos e toxinas, fazendo com que as características da água sejam alteradas; essa modificação é responsável pela morte de muitos organismos marinhos, tanto por envenenamento como por falta de oxigênio. Pode ser perigosa também para os humanos, devido à fixação dessa toxina em moluscos, como os bivalves, que, quando consumidos, podem causar efeitos colaterais à saúde humana. Existem também organismos dinoflagelados bioluminescentes do gênero Noctiluca que, quando em grande concentração e com a movimentação causada pelas ondas, produzem bioluminescência e iluminam as águas à noite.

Maré Vermelha
Acima, maré vermelha causada pela grande concentração de dinoflagelados. Abaixo, a bioluminescência emitida por dinoflagelados do gênero Noctiluca. Fonte: Alejandro Díaz/WikimediaCommons (Domínio Público) e catalano82/WikimediaCommons (CC BY 2.0), respectivamente

O zooplâncton, por sua vez, compreende uma diversidade gigantesca. Boa parte dos animais marinhos têm pelo menos uma fase ou toda a sua vida no meio planctônico, variando em cores, tamanhos e morfologia. Larvas e ovos de alguns peixes também são planctônicos. Estes são chamados ictioplâncton e estão dentro do zooplâncton por se tratarem de organismos do reino animal. Ser planctônico durante uma fase da vida também pode ser uma estratégia evolutiva que contribui para a dispersão das espécies.

O fitoplâncton está distribuído na camada fótica (com luz) do ambiente marinho durante o dia, pois precisam da luz do sol para a transformação fotossíntese. O zooplâncton migra de regiões mais escuras durante a noite, para se alimentar do fitoplâncton. Sobre importância econômica destes organismos, o plâncton é utilizado como fonte de alimento em algumas pisciculturas (cultivos de peixes), devido a sua alta taxa de reprodução, por exemplo.

Alguns crustáceos que são exemplos de organismos zooplanctônicos. Fonte: Matt Wilson/Jay Clark, NOAA NMFS AFSC (Domínio Público)
Alguns crustáceos que são exemplos de organismos zooplanctônicos. Fonte: Matt Wilson/Jay Clark, NOAA NMFS AFSC (Domínio Público)

Autores: Eduardo Donato Alves, Douglas Peiró, Rodrigo Ilho, Julia R. Salmazo e Thais R. Semprebom
Artigo técnico postado no site: https://www.bioicos.org.br/post/a-vida-vagando-no-mar-o-plancton

Referências: PEREIRA, R. C.; GOMES, A. S. Biologia Marinha. 2 ed. Rio de Janeiro: Editora Interciência, 2009. 632 p.