Já tinha ouvido falar da história da fábrica de Mísseis e Foguetes em Ubatuba? Se passou no início da década de 1980, mais precisamente em 1982. Um dos motivos para construção desta nova unidade da AVIBRAS, foi a necessidade de fabricar mais armamentos para atender conflitos mundiais que estavam ocorrendo, caso da Guerra do Golfo Pérsico no início da década de 1980, vejam um pouco da narrativa neste post, descrito por artigos de jornais da época.

De um lado, o Movimento em Defesa de Ubatuba (M.D.U.), uma das primeiras ONGs do Brasil, será transformado em entidade jurídica tendo a seu favor grande parte da população. De outro, o prefeito Benedito Rodrigues Pereira Filho, liderando grupos de comerciantes, proprietários de hotéis e corretores de Imóveis. Com a cidade dividida, já foi dada a largada da grande disputa para responder a Avibras, uma indústria bélica, que desenvolve e fabrica equipamentos de defesa aeroespacial, se os habitantes de Ubatuba concordam com a Instalação de uma fábrica de foguetes e misseis no sertão da Puruba, a 25 Km da cidade e apenas 3 Km da Praia de Puruba.
Além de organizar encontros e reuniões com artistas e ecologistas, o Movimento em Defesa de Ubatuba pretende consultar a população através de um grande abaixo-assinado, para ver quem apoia o projeto da Avibras. O prefeito, por sua vez, se dispõe até a participar de passeatas “com a finalidade de provar que a cidade precisa da fábrica para se desenvolver e empregar a mão-de-obra ociosa”. A disputa mal começou, mas a grande maioria dos 32 mil habitantes de Ubatuba não quer a fábrica da Avibras, garantem 11 líderes do Movimento.
O prefeito alega que “o povo precisa ser melhor Informado para poder opinar” e alguns de seus auxiliares Insinuam que o Movimento em Defesa de Ubatuba “é subversivo, pois até a Igreja e as escolas estão comprometidas com ele”. O certo é que a pacata Ubatuba, conhecida por suas belas praias, vive dias de grande movimentação, Pessoas que nunca se cumprimentaram passaram a trocar opiniões sobre o projeto da Avibras. Nas conversas, são frequentes as palavras bomba, foguete, míssil e explosão.
Vocação Biológica
“Ubatuba tem vocação biológica”, dizem os engenheiros agrônomos, com amplas possibilidades de desenvolver projetos de turismo, agricultura e maricultura. “Se a Avibras construir uma fábrica de misseis ou foguetes no Sertão da Puruba ela vai acabar com um dos últimos santuários ecológicos de Ubatuba”, afirma o vereador do PDS Sidnei Martins Leme. O engenheiro agrónomo Ricardo Toledo Lima Pereira, do Centro de Maricultura da Ilha Anchieta, concorda com o vereador e teme que a poluição provocada pela fábrica, além de eventual explosão, possa mudar todo o ecossistema da região, Inviabilizando os projetos de piscicultura que estão sendo desenvolvidos naquela área.
O sertão da Puruba, onde a Avibras comprou 1.200 hectares, é uma ampla várzea cortada pela rodovia Rio-Santos, que se estende desde a Praia da Puruba até a Serra do Mar. A área é habitada por apenas 40 famílias de calçaras, vivem da agricultura de subsistência, com pequenas plantações de banana, milho e outros produtos. A Avibras já abriu uma pequena estrada até perto do local onde pretende construir a fábrica, mas a movimentação dos habitantes de Ubatuba paralisou os trabalhos, Impedindo que fosse iniciado o desmatamento.

Desenvolvimento
Para o prefeito de Ubatuba, “a cidade precisa se desenvolver e sair da estagnação e a fábrica da Avibras seria uma ótima oportunidade para isso, pois garantiria cerca de 600 milhões de ICM (atual ICMS) ao ano, quase o dobro do que é recolhido atualmente. Ele não teme a fuga dos turistas, hoje a maior renda do município. “Quem ganha com eles são os comerciantes e Ubatuba”, afirma. Benedito Pereira Rodrigues Filho não conhece o projeto da Avibras, “mas o superintendente da empresa, Sergio Sobral de Oliveira, nos garantiu, na visita que fizemos à sede da empresa na semana passada, que a fábrica não trará nenhum problema para a região”.
Mas a maioria dos habitantes não pensa assim. integrantes do Movimento de Defesa alegam que a Avibras não esclareceu pada sobre o que realmente pretende fazer em Ubatuba e temem que a empresa “monte uma verdadeira bomba a poucos quilômetros da cidade”. “Deus me livre, ninguém vai se sentir tranquilo com uma fábrica de foguetes a poucos quilômetros de nossas casas. Estou muito preocupada, não sei ainda o que vai acontecer”, diz temerosa e com muitas dúvidas a dona de casa Maria Teixeira Soares, que mora em Ubatuba há 12 anos. “Vamos dar uma resposta logo a Avibras”, garantem os integrantes do Movimento em Defesa de Ubatuba. “Nossa cidade não quer fábricas de nenhum tipo. Nossas características são outras e podemos desenvolve-las, dando trabalho a todos. Basta o Governo nos ajudar”.
Parte da população foi a rua com cartazes e slogans
A população falava muito do ocorrido em Chernobyl (Rússia), e da proximidade com Angra dos Reis, onde temos usinas nucleares, não tinha uma ideia concreta do que seria esta fábrica. No meio desta confusão, Ubatuba recebeu na Praça da Matriz, em frente a Igreja, membros do PT, desconhecidos na época, Luís Inácio da Silva e Eduardo Suplicy, ambos em defesa do M.D.U. contra a construção da fábrica. No fim a fábrica não aconteceu, vários argumentos foram usados. um deles foi que, para a construção da fábrica, era necessário alterar a Lei de Zoneamento de Uso e Ocupação do Solo de Ubatuba, permitindo assim, a construção de uma indústria bélica em área rural.
Houve movimentação da Câmara de Vereadores para fazer esta alteração, mas a população foi às ruas com cartazes e slogans: “Turismo e lazer sim, Bombas e Mísseis não” / “Pela vida e pela paz, não queremos Avibras”. A pressão do povo e a falta de votos para aprovação não permitiram que isso ocorresse, não houve projeto, nem fábrica. No entanto, a Avibras mantém ainda em Ubatuba, uma propriedade, uma área de preservação permanente, com mais de 28 milhões de metros quadrados, na qual se inclui uma reserva indígena.
Fonte de Informação: Avibras Indústria Aeroespacial S/A – Biodiversidade