Acidentes Aéreos em Ubatuba

Acidentes Aéreos em Ubatuba

A história da aviação e do aeroporto de Ubatuba são contadas em outros capítulos, porém tivemos infelizmente alguns acidentes aéreos relacionados a nossa cidade. Neste post trazemos um breve relato de algumas ocorrências relacionadas com a aviação de Ubatuba.

1951 – O acidente aéreo com o Douglas DC-3 no Ubatumirim
Em 17/09/1951, o Douglas DC-3 PP-YPX da REAL decolou do Aeroporto Santos Dumont às 18h05, com destino ao Aeroporto de Congonhas, onde deveria pousar às 19h40. Às 19 horas, o radiotelegrafista de bordo informou à estação rádio da REAL que o PP-YPX estava prestes a sobrevoar Ubatuba, a meio caminho entre Rio e São Paulo, voando a 2.400 metros de altitude (8.000 pés) e que tudo estava OK a bordo. Como o avião não mais se comunicou com o controle de tráfego aéreo nem com a estação rádio da REAL, nem pousou em São Paulo, as buscas para localizá-lo foram desencadeadas.

Na manhã seguinte, aviões da FAB e da REAL sobrevoaram a área provável da queda do PP-YPX, porém o persistente mau tempo reduzia a probabilidade de sucesso das buscas. Militares, funcionários da REAL, jornalistas e voluntários vasculhavam as redondezas de Ubatuba em busca de vestígios do avião, que somente foi localizado na tarde do dia 19 de setembro, nas matas de Ubatumirim, completamente destruído e sem sobreviventes. A bordo estavam 4 tripulantes e 6 passageiros. O local da queda era de difícil acesso. Para alcançá-lo foi necessário fazer uma longa caminhada pela mata e uma viagem de barco de mais de duas horas.

Acidente com DC-3 no Ubatumirim - Fonte: ubatubense.blogspot.com.br
Acidente com DC-3 no Ubatumirim – Fonte: ubatubense.blogspot.com.br

As más condições meteorológicas e a impossibilidade dos pilotos evitarem cúmulos nimbos (CB) embutidos na densa nebulosidade, pois os aviões da época não eram dotados de radar meteorológico, permitem supor que o PP-YPX provavelmente penetrou inadvertidamente em um dos cúmulos nimbos que bloqueavam a rota aquela noite. Um encontro com turbulência extremamente severa pode ter levado o piloto a perder o controle do avião, que despencou vertiginosamente até se chocar com o solo. Nesta hipótese, piloto e copiloto não teriam tempo de transmitir mensagem de emergência, pois estariam totalmente ocupados na tentativa de controlar o avião. Por estranha coincidência, seis anos mais tarde, a 10 de abril de 1957, a Real perderia o DC-3 PP-ANX em condições semelhantes e quase no mesmo local.

“Eu escutei, mais ou menos às 18h45 de segunda-feira, o ronco de um avião que se aproximava. Devia voar mais baixo que os outros que tenho visto, pois o ronco era muito forte. Estava lá para o lado da Cachoeira do Ingá, perto do Passo Grande. O barulho aumentava. E foi aumentando até a hora em que houve um estouro louco, de arrepiar o cabelo. Depois, tudo ficou em silêncio.” (Morador do Ubatumirim ao jornal A Noite).
Fonte de Informações: Livro “O Rastro da Bruxa” (página 94)

A aeronave PP-YPX já havia se envolvido em outro acidente, ocorrido em 30 de setembro de 1949, ao pousar em Iguape (SP), quando ia prestar socorro aos sobreviventes do acidente com o hidroavião Consolidated PBY-5A Catalina, prefixo PP-BLC pertencente a empresa TABA. Após ser recuperado, o Douglas DC-3, que pertencia a Transportes Aéreos Bandeirantes (TABA) e utilizava o prefixo PP-BLC, foi vendido à empresa REAL Transportes Aéreos.
Fonte desta informação: Blog A História de Iguape.

1952 – Queda de um Hidroavião em Picinguaba
Este acidente ocorrido com um hidroavião modelo “Catalina”, poderia ter tido proporções trágicas. Conforme informações do sr. Wallace Franz, que trabalhou para a Aerovias, e foi tripulante deste Catalina, quando foram amerissar (pousar sobre o mar) perto da Ilha das Couves, região norte de Ubatuba, devido aos fortes ventos de sudoeste, a aeronave se acidentou.

Queda de hidroavião na Praia de Picinguaba – 1952

O hidroavião ficou parcialmente submerso, mas com os motores ainda em funcionamento, o piloto conseguiu chegar até a Praia de Picinguaba,  e nenhum dos 13 passageiros a bordo se machucou. O acidente ocorreu em 1952. O avião afundou nas areias da praia e durante anos, quando a maré baixava, parte do hidroavião aflorava na superfície e corria o risco de machucar pessoas, quando então a prefeitura providenciou a retirada de parte desta aeronave.

1957 – O acidente aéreo com o Douglas DC-3 na Ilha Anchieta
Em 10/04/1957 tivemos o acidente aéreo com um avião DC3 que saiu do aeroporto Santos Dumont – RJ, com destino ao aeroporto de Congonhas – SP. A aeronave do Consórcio Real, com 29 pessoas a bordo apresentou pane em um dos motores após passar por Angra dos Reis e tentou fazer um pouso técnico de emergência em Ubatuba. Porém, voando à noite, perdendo altitude, com chuva, sem sinalização do aeroporto e tentando um pouso no visual, após contornar o morro da Ponta Grossa, acabou por se chocar em uma das montanhas da Ilha Anchieta. Quando viram o terreno, ainda tentaram subir, mas com apenas um motor funcionado, o DC-3 estolou e caiu próximo ao cume. Na queda sobreviveram 1 comissário, 1 passageiro, 1 passageira e sua filha.

Douglas DC-3 da VASP
Aeronave Douglas DC-3, similar ao da queda na Ilha Anchieta. Foto de: http://aventureirosdoar44.blogspot.com/2015/03/vasp-com-seu-douglas-dc-3-em.html

Após decolar do aeroporto Santos Dumont-RJ às 17h30min. e previsão de chegada ao aeroporto de Congonhas às 19h, a aeronave Douglas DC-3 PP-ANX, pertencente ao consórcio Real – Aerovias – Nacional, caiu na mata que recobre o Pico do Papagaio, ponto culminante da Ilha Anchieta, situada nas proximidades do centro de Ubatuba. Eram 18h10min. quando o PP-ANX informou ao controle de tráfego aéreo que tentaria pousar em Ubatuba com um dos motores em pane, pouco depois outro avião do consórcio comunicou ter avistado uma grande fogueira na Ilha Anchieta.

Naquela quarta-feira a “Real” cancelara seu voo das 15h do Rio de Janeiro para São Paulo com escala em Santos, devido às precárias condições meteorológicas presente no litoral norte de São Paulo. Luís Andrade Cunha, um dos quatro sobreviventes do desastre, declarou que a viagem era normal quando os passageiros foram avisados que deveriam atar seus cintos de segurança e não fumar. Pouco depois, o avião precipitou-se no Pico do Papagaio. Luís tivera sorte em escapar com vida, pois nem tivera tempo de atar seu cinto de segurança, lembra-se que, após o primeiro impacto, o avião deu duas ou três cambalhotas antes de parar, e que a fuselagem se separou das asas e dos motores, sendo poupadas das chamas que consumiram o restante do avião.

Jornal Folha da Tarde e o anúncio da queda da aeronave em Ubatuba
Jornal Folha da Tarde e o anúncio da queda da aeronave em Ubatuba

Embora a comissão de investigação tenha atribuído o acidente à falha de um dos motores por razões indeterminadas, as circunstâncias que o cerca ainda permanecem obscuras. A rapidez com que a situação do voo deteriorou não pode ser explicada somente pela perda de um dos motores, já que os Douglas DC- 3 voavam bem no modo monomotor, principalmente quando a falha se manifestava na fase cruzeiro. Um súbito disparo de hélice poderia levar o piloto a perder rapidamente o controle do avião, esta hipótese, porém, não encontra respaldo no depoimento do passageiro sobrevivente, que dificilmente deixaria de mencionar o ruído alto e estridente produzido por uma hélice descontrolada em alta rotação.

Talvez um incêndio em um dos motores tenha levado o comandante Ferreira a tentar pousar em Ubatuba às pressas, antes que o fogo comprometesse a resistência estrutural do avião. O certo é que algum problema súbito e de natureza grave fez Ferreira abandonar o nível de cruzeiro e descer rapidamente em direção ao litoral norte de São Paulo, repleto de elevações ocultas pela escuridão daquela noite chuvosa. Pousar visual à noite em Ubatuba sob intensa pressão psicológica, e condições meteorológicas adversas, era missão quase impossível de ser bem-sucedida. Tentando visualizar o contorno do litoral paulista e identificar a luzes de Ubatuba, Ferreira pode ter efetuado manobra evasiva ao avistar o vulto do Pico do Papagaio em meio à chuva.

Reprodução: Mundo Ilustrado, 24.04.1957
Reprodução: Mundo Ilustrado, 24.04.1957

Nas condições precárias em que o voo desenvolvia (monomotor), tal manobra pode ter causado perda de sustentação, que levou o avião a precipitar-se sobre a mata que recobria o morro. Além de Luís Cunha e do comissário Leonard, resgatado ainda com vida, mas bastante queimado, sobreviveram Dalva Zema e sua filha menor, Marlene Zema.
Fonte de Informações: Livro “O Rastro da Bruxa”, Comandante Carlos Ari Cesar Germano da Silva.

2019 – Queda de helicóptero
Em 01/01/2019, o céu estava parcialmente encoberto durante o voo panorâmico feito por helicóptero (aeronave de prefixo PR-RMZ), a partir do aeroporto de Ubatuba. Alguns minutos depois da decolagem, a aeronave perdeu altitude e atingiu o cruzamento das ruas Rodrigues de Abreu e Carlos Asseburgo, na região residencial do bairro do Itaguá.  O helicóptero passou próximo a prédios durante a queda e atingiu árvores antes de colidir com o chão.

Helicóptero que caiu em Ubatuba — Foto de Wilson Araújo /  TV Vanguarda
Helicóptero que caiu em Ubatuba — Foto de Wilson Araújo / TV Vanguarda

Estavam na aeronave, além do piloto, o casal de turistas Vivian Carolina Cataldo e Paulo Thiago Alves. O piloto da aeronave sequer precisou ser internado, depois de passar por uma radiografia. O casal foi hospitalizado com ferimentos, mais graves em Paulo e receberam alta em seguida. Infelizmente tivemos uma vítima fatal neste acidente, o pedestre Alessandro Correia Leite, que morava em Ubatuba, passava pelo local e morreu na hora.
Fonte das informações: https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2019/01/03/video-mostra-queda-de-helicoptero-que-matou-pedestre-em-ubatuba-veja.htm

2023- Acidente com avião de pequeno porte no aeroporto de Ubatuba
Em 28/01/23, no momento da decolagem esta pequena aeronave saindo do aeroporto de Ubatuba sofreu abrupta queda. Este avião fazia o serviço de comunicação visual com faixas nas praias, e ao tentar subir a faixa enroscou na grade do próprio aeroporto, fazendo o avião girar e cair sobre a pista na avenida em frente a Praça Capricórnio.

Acidente com avião de pequeno porte no aeroporto de Ubatuba
Acidente com avião de pequeno porte no aeroporto de Ubatuba

O piloto era o único tripulante e felizmente não teve ferimentos graves e também a aeronave não atingiu outros veículos ou pessoas no solo.


Fontes das informações deste post:
Livro: Sobre o Mar de Iperoig – Autores: Celso de Almeida Jr. / Celso Teixeira Leite e Cesar Rodrigues
https://ubatubense.blogspot.com/2011/09/ubatuba-1957aviao-dc-3-cai-na-ilha.html
https://www.desastresaereos.net/ac_br_1951.htm
https://ubatubense.blogspot.com/2014/02/1952hidro-aviao-cai-proximo-ilha-das.html