Congada de Bastões – Dança Folclórica

Congada de Bastões – Dança Folclórica

A Congada de Bastões de São Benedito do Sertão do Puruba é um conjunto de cantos e danças do folclore brasileiro, uma tradição criada pelos escravos negros. A festa popular originou-se no Brasil na metade do século XVII e carrega elementos culturais africanos (principalmente do povo de Angola e Congo) e elementos da Igreja Católica, ou seja, uma mistura das festas trazidas pelos negros escravizados com a religiosidade cristã na época colonial.

Imagem extraída de: https://www.facebook.com/CongadaDeBatoesDeSaoBenedito/photos/1589950047808518

Nesta festa, se louva Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e Santa Efigênia, lembrando da proteção que esses santos deram aos escravos negros. Em algumas congadas, se recorda a figura de Chico Rei (*) e da luta entre cristãos e mouros. A congada é celebrada de norte a sul do Brasil e não há um dia fixo, mas os meses de maio e outubro consagrados a Nossa Senhora, costumam ser os escolhidos para a festa.

A Congada chega em Ubatuba
Em Ubatuba o surgimento dessa manifestação folclórica ocorreu na década de 40 no sertão do Puruba. Nessa época o espanhol Benigno Castro instalou na Praia da Puruba uma serraria para beneficiar caxeta, madeira que havia em abundância no sertão purubano. Essa madeira, após seu beneficiamento, era levada para a Praia do Ubatumirim em lombo de burros. De lá era transportada pela lancha Santense até Santos para a fábrica de lápis. Para a retirada dessa matéria prima foram contratados aproximadamente 150 homens, que na sua maioria vinham de Cunha, da região do Vale do Paraíba.

Apresentação da Congada de Bastões da Puruba durante Encontro de Ecoturismo
Apresentação da Congada de Bastões da Puruba durante Encontro de Ecoturismo

Como esse pessoal ficava acampado em pequenos ranchos naquele local, nasceu um laço de amizade entre os cunhenses e purubanos residentes na área. Segundo Pedro Brandão, nascido naquele sertão em 1920, a maioria desses trabalhadores vinda de Cunha pertencia a um determinado grupo de congada daquela cidade. Nos fins de semana, cunhenses e purubanos se ajuntavam e organizavam bailes de Fandango que eram comuns na região, e eles participavam das funções (bailes de roça). Entre uma “talagada” e outra de cachaça ou concertada (bebida típica caiçara), nasciam as prosas sobre festas e danças. Assim os purubanos começaram a se interessar pelas festas tradicionais de Cunha.

Por diversas vezes os purubanos saíam a pé pelas trilhas junto com os cunhenses e chegavam em Cunha, percurso que faziam normalmente em sete horas, um trajeto difícil, para assistir as festas, nas quais se apresentavam as congadas e moçambiques. Assim os purubanos foram se entusiasmando com aquelas danças e resolveram criar também a congada no sertão do Puruba. Portanto, a congada do Sertão do Puruba tem suas raízes presas a dança Moçambique (**) da cidade de Cunha- SP, e essa por sua vez, a de São Luiz do Paraitinga, como mostra citação feita pelo pesquisador Emilio Willerms no Caderno de Folclore escrito por Maria de Lourdes Borges Ribeiro: “A Moçambique chegou em Cunha através dos luizenses na década de trinta”.

Os primeiros movimentos, versos (pontos) e manejos dos bastões, foram ensinados aos purubanos pelos senhores Zé Isidoro e Jorge Vergílio, mestre e contramestre na dança da congada de São Benedito de Cunha. Os primeiros purubanos a comandar a congada foram os senhores Ditinho Alves, mestre, seu irmão Basílio Alves, contramestre, e mais Guilherme Pedro dos Santos, rei do congo, Marcolino Fernandes, general da congada e Francisco Paulo Fernandes de Cristo, capitão da companhia.

Imagem extraída de: https://www.facebook.com/CongadaDeBatoesDeSaoBenedito/photos/1589950047808518

Com o falecimento do senhor Basílio Alves e a ida do seu irmão Ditinho Alves para Santos, onde fixou residência, a congada do Puruba passou por um longo tempo inativa. Somente na década de 60, outro purubano, senhor Fortunato, assumiu a direção da congada. De 1960 a 1978 a congada viveu seu auge, era solicitada para se apresentar nas festas populares do Camburi à Tabatinga.

Em 1978 o senhor Fortunato foi vítima de um atropelamento na altura do bairro da Estufa, na rodovia Rio-Santos, e veio a falecer. A partir desse episódio a congada do Puruba, pela segunda vez, entrou em decadência, ficando desativada até 1987. Com o surgimento da FundArt (Fundação de Arte e Cultura de Ubatuba), criada para ser um sustentáculo da cultura popular no município, até então fadada a desaparecer, despontava uma nova aurora para a congada do Puruba.

Em 1987 a congada do Puruba voltou ao cenário folclórico apresentando-se em todas as festas populares em Ubatuba, tendo a frente um novo comandante, senhor Benedito Fernandes, filho de Francisco Paulo Fernandes de Cristo, antigo capitão da Companhia de São Benedito na década de 40, quando da sua fundação.

Um dado muito importante que ocorre nas Companhias de Congada e também de Moçambique é que esses grupos folclóricos geralmente são formados dentro de uma família e essa tradição também foi mantida em Ubatuba, pois a Companhia da Congada de São Benedito do Sertão do Puruba, desde sua criação, é formada por uma grande família de purubanos.

Congada de Bastões da Puruba durante Encontro de Ecoturismo
Congada de Bastões da Puruba durante Encontro de Ecoturismo de Ubatuba

Ponto de congada em homenagem aos ilustres senhores purubanos, mestre Fortunato e contramestre Luizinho Fernandes:
“No resplendor das estrelas,
Resplandece a Ave Maria.
A lua resplandece a noite,
O sol resplandece o dia.”

Essa manifestação folclórica tem peculiaridades em Puruba, pois diferentemente das Congadas tradicionais, no vilarejo não se usam espadas, e sim bastões. A Congada autêntica é dramatizada, existe um diálogo entre o rei mouro e o rei cristão, que, no fundo, é uma batalha entre eles; os mouros se convertem ao cristianismo e termina tudo em festa. Em Ubatuba, só há a dança e o canto.

Vestuário: Calça, camisa, calçado, guiso, boina e bastão.
Instrumentos: Viola, violão, cavaquinho, rabeca, pandeiro e caixa.
Contato para a Congada tradicional caiçara, do sertão do Puruba | Ubatuba: (12) 9 9673-6724

O vídeo a seguir foi editado a partir de imagens da apresentação do pessoal da Congada de Bastões do Sertão da Puruba, no Encontro de Ecoturismo, promovido pela Associação Coaquira:

(*) História de Chico Rei
Diz a lenda que Galanga, nome verdadeiro de Chico Rei, era o monarca de sua tribo no Congo, e foi capturado com toda sua gente. Batizado, recebeu o nome de Francisco e durante a travessia para a colônia da América Portuguesa, o Brasil, houve uma grande tempestade. Os marinheiros, com medo que o navio virasse, jogaram ao mar a esposa e a filha de Chico, para que as águas se acalmassem. Quando chegaram aqui, em 1740, Chico e seu filho foram comprados e levados para a região das minas, a Vila Rica, atual Ouro Preto. Desta maneira, Chico se pôs a trabalhar dia após dia e reuniu uma grande quantidade de metal, o suficiente para comprar sua alforria, a do filho e a de mais de 200 escravos.

Os escravos que foram libertos por ele passaram a tratá-lo como rei, ao mesmo tempo que se levantava a igreja de Santa Efigênia. Todos os anos, antes da missa dedicada a Nossa Senhora do Rosário, no dia 7 de outubro, acontecia o cortejo onde se cantava, dançava e se honrava Chico Rei. Embora esta lenda não tenha nenhuma evidência histórica, o conto faz parte das tradições orais de Minas Gerais e sobreviveu ao longo do tempo entre os congadeiros.

(**) Moçambique
O Moçambique é uma dança-cortejo (dança folclórica), de origem afro-brasileira, sem enredo, praticada no Brasil, durante as festas religiosas como a Festa do Divino e a Folia de Reis. Utiliza bastões e a dança consiste em duas fileiras compostas por homens vestidos de branco e com chapéus que levam fitas ou medalhas de santos.

Moçambique - Foto de: Flavio Pereira
Moçambique – Foto de: Flavio Pereira

Os participantes trazem fitas azuis ou vermelhas cruzadas no peito que representam, respectivamente, Nossa Senhora e São Benedito, além de “paiás” (espécie de chocalhos ou guizos) amarrados às pernas. A dança é executada ao som de instrumentos como caixa (um tipo de tambor pequeno), viola, sanfona, violão e cavaquinho. Os bastões, além de fazerem parte do aparato, também servem para dar o ritmo. Junto aos músicos, ficam o rei e a rainha do Moçambique que conduzem a bandeira do grupo. Tanto o Moçambique quanto a Congada são grupos formados pelos devotos de São Benedito e Nossa Senhora do Rosário, santos protetores dos negros.

É muito importante manter a história de um povo viva, estimulando a cultura que nasce do conhecimento, dos costumes e tradições de um povo. Esta é um contribuição sociocultural, que melhora a qualidade de vida das comunidades e preserva a memória cultural.

Fonte de Informações e vídeo:
https://fundart.com.br/tradicao/danca/congada-de-bastoes/
Congada de Bastões de São Benedito de Ubatuba -SP | Facebook
Cultura – Ubatuba – Sua opção de lazer (ubaweb.com)
https://www1.folha.uol.com.br/fsp/turismo/fx07069917.htm
https://www.todamateria.com.br/congada/
https://www.visiteobrasil.com.br/sudeste/sao-paulo/folclore/conheca/mocambique