Antoine de Saint-Exupéry em Ubatuba?

Antoine de Saint-Exupéry em Ubatuba?

Antoine de Saint-Exupéry em Ubatuba? Teria o autor da obra “O Pequeno Príncipe” visitado nossa cidade? Esta história fascinante foi criada como um conto de fadas, que se tornou verdade por 52 anos (1933 – 1985). Era uma tarde luminosa do mês de junho de 1933 em Ubatuba. Época em que os parcos 800 habitantes da cidade viviam ainda o espanto de seu primeiro contato com um automóvel, ocorrido poucas semanas antes. Mas nessa tarde o espanto seria ainda maior: sem qualquer aviso ou preparação na Praia do Cruzeiro, centro da cidade, cujas árvores haviam sido cortadas exatamente para uma emergência desse tipo na Revolução de 32 (um ano antes), mas nunca sucedida, desceu um avião da Cia. Aéropostale (atual Air France).

Pouso-do-aviao-Aéropostale em-1933-em-Ubatuba
Pouso do aviao Aéropostale em 1933 em Ubatuba

Esta aeronave fazia a linha aérea regular entre França e Argentina. Nos 11 mil quilômetros do percurso passava pela costa atlântica brasileira e teria descido em Santos, na base aérea da Praia Grande, não fosse pelas péssimas condições meteorológicas. Ao passar próximo a Ubatuba, fez retorno, baixou a altitude. sobrevoou a cidade e após avistar a torre da igreja matriz, decidiu pelo pouso nas areias da praia central. Uma parada técnica e providencial até a melhora das condições climáticas. No avião estavam dois franceses, um telegrafista chamado Chauchat e era pilotado por um certo “Antoine”, que naturalmente não falava português, assim como os de Ubatuba não sabiam francês. No máximo um “vous voulez quelque chose?”, dos rudimentos ginasianos.

Pouso do avião em 1933 em Ubatuba
Pouso do avião em 1933 em Ubatuba

Naquela época, Ubatuba estava reduzida a 110 casas, todas mais ou menos em ruínas e em dez anos, a cidade poderia acabar. Matava-se peixe a paus e apanhava-se milhares de tainhas cujos cardumes vinham dar à praia e eram enterrados como sobras. Quando o aviãozinho desceu, um grupo logo correu à praia do Cruzeiro e cercou a nave. Hélice parada, os tripulantes desceram, foram guiados por um agitado cortejo popular até a casa do radiotelegrafista da Aéropostale, Gilberto Nogueira Brandão. Antoine e Chauchat queriam ficar hospedados em sua casa, mas o telegrafista não tinha acomodação suficiente. A partir daí, Antoine e Chauchat foram considerados hóspedes oficiais da cidade, pelo então prefeito Deolindo de Oliveira Santos (aliás, tio do historiador “Seu” Filhinho) e levados para o Hotel Felipe, de pau-a-pique, porém de linhas coloniais, hoje já demolido.

Os ilustres visitantes viveram uma noite memorável, regadas por duas garrafas de um inesquecível vinho Sauternes, raro e caro até mesmo na França. Após o justo sono, os franceses, bem cedinho, no dia seguinte voltaram à praia, com o propósito de retirar do avião uma parte do combustível, ofertados à população, facilitando a decolagem. Os moradores chegaram com todo o tipo de vasilhame, de latas até penicos. Depois todos, com compreensível entusiasmo, testemunharam o pequeno avião – um Latecoère – correr pela praia, até que o aparelho adquirisse velocidade suficiente para decolar. “Tomou sul, após uma suave evolução sobre a baía de Ubatuba.” A cena jamais seria esquecida, incorporou-se ao folclore local. A crônica ubatubense registra ainda dois outros casos de ruidosas descidas de aviões em suas praias, mas nada que provocasse o mesmo frisson.

O tempo passou, e a obra “O Pequeno Príncipe” ficou famosa no mundo inteiro, escrita pelo francês, aviador, Antoine de Saint-Exupéry (1900 – 1944). Como os antigos sabiam que Saint Exupéry havia vivido por 2 anos em Buenos Aires e que tinha estado no Brasil algumas vezes, especialmente na região sul de nosso país, não tiveram dúvida, aquele Antoine foi imediatamente dado como Antoine de Saint-Exupéry, o famoso aviador e autor de “O Pequeno Príncipe”, livro que provocaria erupções de sensibilidade banal em vários cantos do mundo, incluindo as passarelas por onde desfilavam as candidatas a miss Brasil.

O sr. Washington de Oliveira, o “Filhinho”, que mais tarde ocuparia duas vezes a prefeitura da cidade e se tornaria seu principal historiador, foi também, sem qualquer má intenção, uma espécie de cultor e divulgador de um mito que Ubatuba teve como verdade durante 52 anos. O de que, após a visita do alemão Hans Staden mais de quatro séculos antes, a cidade recebera outro visitante internacionalmente célebre: Antoine de Saint-Exupéry.

A lenda sendo desfeita por Luiz Ernesto Kawall
Tornada pública a partir de 1964 por uma série de reportagens do jornalista Ewaldo Dantas Ferreira, a inusitada visita de Saint-Exupéry passou quase imediatamente a ser pesquisada por Luiz Ernesto Kawall, que tornou-se, então, conhecedor da obra e da vida deste francês nascido em 1900 e cujo avião desapareceu sobre o mar do Mediterrâneo no dia 31 de julho de 1944, entre Grenoble e Annecy, depois de haver partido de um campo de pouso na Córsega. Soube-se depois que seu avião foi abatido pela artilharia alemã. “Não encontrei na obra do escritor nenhuma referência ao incidente em Ubatuba; suas maiores referências ao Brasil estão contidas no capítulo 13 de Voo Noturno, onde fala sobre as montanhas ‘recortadas com nitidez no céu brilhante’, das florestas ‘sobre as quais brilham incessantemente, sem lhes dar cor, os raios do luar’ e de ‘uma lua sem desgaste: uma fonte de luz’”.

Luiz Ernesto Kawall, Léon Antoine e Célia Regina
Luiz Ernesto Kawall, Léon Antoine e Célia Regina

Por depoimentos, sem nenhuma imagem, especula-se sobre a presença de Saint-Exupéry em Natal, na Praia Grande, em Itaipava, em Pelotas e Porto Alegre. Mas a descida em Ubatuba tornou-se um mito tão forte que envolveu, ou foi corroborado, até por uma especialista imbatível na biografia do escritor-piloto-aventureiro, a dominicana irmã Rosa Maria. Ela ficou nacionalmente conhecida ao responder sobre Saint-Exupéry no programa O Céu É o Limite, tendo depois disto escrito um livro sobre ele. No prefácio fazia referências a pousos forçados em Santos, Praia Grande e Ubatuba. Mas, Kawall explica, irmã Rosa Maria foi das primeiras a alertá-lo de que Ubatuba tinha poucas possibilidades de ter sido pelo menos uma vez incluída em seus roteiros.

Kawall, entre muitas outras pessoas, foi ouvir em Ubatuba, dona Isabel de Oliveira Santos, viúva do prefeito Deolindo, que considerou os acidentados franceses hóspedes oficiais. O raro vinho Sauternes servido a Antoine e seu companheiro foi possível por ser Deolindo “um comerciante que tinha em sua casa, vinhos de várias partes do mundo, especialmente franceses e portugueses, importava das casas de São Paulo e Rio de Janeiro…” Dona Isabel não se lembra bem dos aviadores no depoimento, tomado em agosto de 1973, mas conta que “eles devem ter se hospedado no Hotel Felipe, que ficava defronte da nossa casa, na Rua Maria Alves e era o melhor e mais antigo de Ubatuba”.

Léon Antoine
Léon Antoine

A saga exuperyana foi confirmada pelo historiador e ex-prefeito Filhinho: “Quando o avião desceu houve aquele burburinho, o aparelho foi cercado pela população. Um húngaro, Júlio Kertz, tentou falar com o piloto em alemão, mas ele não entendeu”. Ele lembra que “no dia seguinte os franceses ainda passaram a pé pela frente de casa, junto à praça da Matriz, se despediram com um “au revoir” e foram embora. Não sei se passaram telegrama pelo correio, acho que não, pois se a própria Air France (nome da Aéropostale de 1933 em diante) tinha estação telegráfica não precisariam disto”. Filhinho informou que não há mais registro dos livros do hotel porque seus proprietários morreram. Mas conseguiu descobrir o telegrafista Gilberto Brandão, da Air France, morando em Niterói e este confirmou numa carta “a estada de Saint-Exupéry entre nós”, embora sem conseguir precisar exatamente a data.

“estada de Saint-Exupéry” está fartamente documentada em fotografias. Umas foram feitas pelo próprio piloto Antoine e outras por um alemão (aliás, nascido na Guatemala), Herman Porcher, ouvido por Kawall. O alemão estava na cidade como turista e mais tarde compraria metade da Praia de Santa Rita“Localizei esse Porcher morando em Santo Amaro – SP. Que descoberta! Porcher não só relatou o caso dos aviadores como, depois de me descrever o jantar na companhia deles, mostrou quatro fotografias batidas na manhã de sua partida. Em Ubatuba, onde se hospedava no Hotel de Idalina Graça e planejava caçadas nas matas vizinhas com alguns amigos, usando culotes, perneiras e capas sobradas da Revolução de 32, o ‘alemão’ lembrou-se de que eram por volta de cinco horas e já começava a escurecer quando o avião desceu na praia. Falou com os tripulantes em francês, ouviu deles que vinham de Natal, fazendo várias escalas e levando malas postais até Santos”.

– Quando os franceses pediram vinho o prefeito foi buscar. O mais alto ao ver a garrafa exclamou: “Mas onde o senhor arranjou isto? Na França este vinho custa um dinheirão! ”Conversamos sobre aviões e a linha aérea francesa para a América do Sul e também sobre os voos do Zeppelin, que eu tinha fotografado em São Paulo naquele mesmo ano. Depois do jantar fomos ver o avião na praia, um caiçara entrara na cabine e estava divertindo-se. “Cuidado, João, o avião pode levantar voo”, alguém gritou, e ele saiu correndo de medo.

Sr. Lindolfo, outra testemunha do fato indicando o local do pouso do avião
Sr. Lindolfo, outra testemunha do fato indicando o local do pouso do avião

Porcher contou também que, “na década de 1950, quando Saint-Exupéry começou a ficar falado e famoso, soube que aquele homem alto e gentil que descera em Ubatuba era ele”. Porcher morreu antes de desfeito o equívoco. Mas com as fotos em mãos, Kawall foi em frente. Uma das primeiras pessoas que procurou foi a dominicana Rosa Maria, que não pode dizer com certeza se nas fotos estava ou não seu amado Saint-Exupéry. Talvez no lugar do escritor piloto estivesse outra celebridade, o grande pioneiro da aviação e grande herói Jean Mermoz, que também pilotara para a Generale Aéropostale. Kawall tentou Joseph Halfin, da Air France, e escreveu cartas para a França, mas nada de levantar com certeza a identidade dos franceses que pernoitaram em Ubatuba.

A verdade começou a aparecer em setembro de 1985, quando se comemorava a travessia do Atlântico por Mermoz e a TV Globo entrevistou o jornalista francês Jean-Gérard Fleury, correspondente da revista Le Point. Ao vê-lo falar sobre o heroísmo pioneiro de Mermoz, Kawall intuiu que poderia ter dele um esclarecimento definitivo. Tinha razão. Fleury, que foi amigo de Saint-Exupéry, imediatamente se interessou pelo assunto, a partir de uma conversa telefônica. Recebeu uma carta do jornalista brasileiro, com várias perguntas.

Pouso do avião em 1933 em Ubatuba
Pouso do avião em 1933 em Ubatuba

Entre as respostas, a de que “as fotos enviadas não são de Saint-Exupéry” e “Saint-Exupéry nunca teve acidente no Brasil”. E completava: “Achando muito simpática sua pesquisa sobre um episódio acontecido em Ubatuba, tenho grande prazer em completar as informações solicitadas. O avião que pousou naquela cidade em 1933 era pilotado pelo veterano comandante Leon Antoine, acompanhado pelo radiotelegrafista Chauchat.

Aquele aviador não se tratava de Saint-Exupéry, mas a notícia interessante foi que o mesmo era outro ícone da aviação francesa: Léon Antoine. Um dos grandes ases da aviação francesa em todos os tempos, com mais de 21 mil horas de voo, recordista mundial de voo livre com um tempo de oito horas e 20 minutos, detentor da Legião de Honra.

A pesquisa estava terminada, ou quase. Luiz Ernesto Kawall decidiu então que tudo só ficaria completo depois de um encontro com o próprio Léon Antoine, sobre quem Fleury informara estar vivendo no Brasil (que coincidência!), desde que se aposentara na Air France. Antoine, casado, pela segunda vez, com Célia Regina, uma brasileira, de fato morava num sítio em Barão de Javari, no interior fluminense – RJ. Em 1985, aos 84 anos, pai de dois filhos, cinco netos e dois bisnetos, adorava o Brasil e permanecia um admirador de bons vinhos. Reconheceu imediatamente as fotografias feitas em Ubatuba do seu avião Late 26. Já havia pilotado todos os tipos de avião, do primitivo Brequet-14 até o Super G Constellation. Seu relato sobre o episódio:

 Nossa próxima parada seria Praia Grande, mas na altura de Ubatuba a cerração impediu o voo visual. Nós nos guiávamos por carta da Marinha do Brasil, sempre observando os faróis e os homens da empresa acendiam fogueiras nos pousos de Praia Grande, Florianópolis e Pelotas para nos orientar. Com a cerração fechando o visual, baixamos um pouco e avistamos a torre da igreja de Ubatuba. Fizemos um voo em círculo, escolhemos uma praia onde a vegetação era rala e decidimos descer. Fomos imediatamente cercados pelo povo, alguns nos olhávamos como se fôssemos extraterrestres.

Antoine, entre muitas lembranças, conta que na hora da partida o dono do Hotel Felipe lhes ofereceu a compra do estabelecimento, “por seis mil contos, em moeda da época. Deve ter sido por causa do meu nome, Léon Antoine, que mais tarde se passou a acreditar que Saint Exupéry teria dormido na cidade. Eu era mesmo parecido com ele. Não apenas nas feições, mas também pela altura. Só que ele andava mais curvado do que eu. Além disso, Saint-Exupéry nunca fez regularmente a linha para a América do Sul, mas como passou dois anos em Buenos Aires certamente andou por aqui. Não foi meu amigo íntimo, mas eu o conheci bem, era um pouco do mundo da lua…” O piloto falou a Kawall de sua vontade de rever Ubatuba, o lugar do acidente e as pessoas que lhe prestaram tão fraternal assistência”.

Léon Antoine - Célia Regina e seu filhinho
Léon Antoine – Célia Regina e seu filhinho

Léon Antoine, após 52 anos, em 1985, retorna a Ubatuba. Revê os mesmos cenários muito mudados, impossibilitado de hospedar-se no colonial Hotel Felipe, que não existe mais, para abrigar-se sob as sofisticadas quatro estrelas do Palace Hotel. As testemunhas da época são também poucas. Mas lá estava ainda “Seu” Filhinho, o historiador, farmacêutico, ex-prefeito. O homem que ajudara cimentar um mito e que assistia à definitiva destruição do seu atraente mistério. Ubatuba, cujas areias receberam escritos de Anchieta, cujos índios foram introduzidos pelo padre Manoel da Nóbrega aos rudimentos do que o Ocidente chama de civilização, cujas paisagens extasiaram o alemão Hans Staden, teria de abrir mão de sua mais palpitante história contemporânea: o autor da obra O Pequeno Príncipe jamais passou uma noite no Hotel Felipe. Pronto, a lenda estava desfeita!

Fonte de informações: Edição de textos e fotos após consulta a Luiz Ernesto Kawall, em julho de 2015, a partir de reportagem de Edmar Pereira, publicada no Jornal da Tarde em 11/1/1986 . https://ubatubense.blogspot.com/2016/09/leon-antoine-ou-antoine-de-saint.html

Mas quem foi Saint Exupéry?
Muito antes de O Pequeno Príncipe, publicado apenas um ano antes da sua morte, Antoine de Saint-Exupéry (1900-1944) já era um escritor de enorme renome e sucesso. O principal tema da sua literatura era a aviação, paixão que não ficou apenas no campo das ideias e que o levou a se tornar piloto profissional e um dos responsáveis pela implantação de rotas de correio aéreo na África, América do Sul e Atlântico Sul. Livros como Correio do Sul (1929), O Aviador, Piloto de Guerra (1942) e Terra dos Homens (1939) falam de coragem, irmandade e comprometimento, elementos cada vez mais necessários nestes tempos sombrios de pandemia e tensão política mundial.

Saint-Exupéry - Imagem de Youth Foundation - extraída de https://www.iwc.com/es/company/partnerships/saint-exupery.html
Saint-Exupéry – Imagem de Youth Foundation – extraída de https://www.iwc.com/es/company/partnerships/saint-exupery.html

Em Voo Noturno (1931), o livro narra a história de uma companhia de correio aéreo que precisa vencer as intempéries do tempo para levar mensagens em segurança até o destino delas. Para isso, seus pilotos precisam de fibra e de boa dose de coragem e comprometimento. Dono de uma escrita profunda e reflexiva, o francês de nome complicado ainda hoje consegue falar diretamente ao coração dos leitores, que embarcam com ele em perigosas travessias sob céus de noites estreladas ou tempestuosas. Saint Exupéry foi celebrado em vida como um dos maiores escritores do seu tempo. 

Aventureiro por natureza
Saint-Exupéry, Saint-Ex para os colegas de voo, ou Zeperri para os moradores locais de Florianópolis, com quem conviveu por curto período, Antoine nasceu em família abastada (era filho de um conde e de uma condessa) e começou carreira na aviação com apenas 21 anos, quando foi admitido como piloto no Segundo Regimento de Estrasburgo. Apaixonado pela emoção e pela possibilidade de superar a si mesmo em suas aventuras, bateu recordes de velocidade no ar e viveu de maneira veloz também quando estava com os pés plantados no chão.

Em 1931 ele se casou com a salvadorenha Consuelo, e já nessa época demonstrava não conhecer limites. Entre as suas extravagâncias estavam uma Bugatti e um avião particular, além de um forte gosto por cigarros caros, que chegavam a custar o equivalente ao salário que ganhava como relações públicas da Air France.Para tentar vencer as dificuldades financeiras causadas pelo hábito de gastador inveterado, Exupéry dava seus pulos também como inventor. Em 1934 patenteou seu primeiro sistema de aterrissagem ― até 1940, outras 13 patentes viriam. Mas a coisa não para por aí. Até o fim da sua breve vida, se meteu em projetos que envolviam a propulsão de foguetes, assunto que lhe interessava particularmente.

Em 1935 Saint-Exupéry, acompanhado do navegador André Prévot, sofreu um acidente aéreo enquanto participava de uma corrida com trajeto entre França e Vietnã. O avião em que estavam caiu no meio do deserto do Saara e os dois, que escaparam sem ferimentos graves, passaram quatro dias de angústia até serem finalmente resgatados. Sem medo de encarar o destino de frente, fosse ele qual fosse, Saint-Ex se alistou para atuar na Segunda Guerra Mundial. Quando seu país foi invadido pelos nazistas, foi obrigado a se exilar nos Estados Unidos, onde foi recebido pelo cineasta Jean Renoir, filho do pintor impressionista Auguste Renoir, e lá ficou por mais de dois anos. Foi também neste período que escreveu e publicou seu best-seller mundial O Pequeno Príncipe (1943).

Saint Exupéry - Imagem extraída de https://www.pensador.com/frase/NzIxNjAz/
Saint Exupéry – Imagem extraída de https://www.pensador.com/frase/NzIxNjAz/

Fim prematuro
 O fim da vida de Antoine Saint-Exupéry mais parece com a passagem de um livro que ele mesmo teria escrito. Ao fazer uma missão de reconhecimento em julho de 1944, seu avião simplesmente desapareceu depois de decolar da ilha da Córsega. Durante muito tempo, o desaparecimento do Lockheed Lightning P-38 que pilotava permaneceria um mistério, até que, em 1998, um pescador encontrou uma pulseira prateada com o nome do autor. A descoberta levantou dúvidas sobre a veracidade da história, mas foi o suficiente para chamar a atenção de Luc Vanrell, arqueólogo marinho que encontrou os destroços do avião do piloto escritor perto de Marselha, em 2004.

Saint-Exupéry
Saint-Exupéry – Imagem extraída de https://www.bpp.pr.gov.br/Candido/Noticia/Voando-Alto-licoes-de-Saint-Exupery-para-o-seculo-XXI

Vanrell trabalhou em conjunto com Lino von Gartzen, que aprofundou as buscas até chegar a Horst Rippert, ex-piloto alemão que afirmou ter sido o responsável pela morte de Saint-Exupéry com o seu avião modelo Masserschmidt ME-109. Rippert guardou este segredo por longos 64 anos, pois não queria ser responsável pela morte do autor de livros que o haviam feito se apaixonar pela aviação. “Na nossa juventude, todos lemos e adorávamos os seus livros”, disse em entrevista para o livro Saint-Exupéry, l’ultime secret: Enquête sur une disparition (Editions du Rocher, 2008), escrito por Vanrell e outros colaboradores. “A sua obra despertou a vocação de voar em muitos de nós. Se soubesse quem era, jamais teria disparado”, lamentou Rippert. Embora o corpo não tenha sido encontrado, a história do abatimento por um soldado nazista é a mais plausível e a mais aceita até o momento.

Livro "O Pequeno Príncipe"
Livro “O Pequeno Príncipe”

Grandes lições para além de um pequeno livro 
Quando “O Pequeno Príncipe” foi publicado, o clima não era dos melhores. As tropas aliadas desembarcavam na Sicília e trariam a guerra até o continente europeu na tentativa de enfraquecer a colaboração entre Itália e Alemanha; Japão e Estados Unidos se enfrentaram nas Ilhas Salomão; Roma foi bombardeada; mais e mais pessoas morriam dentro e fora da linha de frente.

Mesmo assim, Saint-Exupéry continuava a acreditar no ser humano. Mesmo quando se desiludiu diante de tantas atrocidades, continuou a apostar todas as suas fichas nas virtudes humanas, sem nunca ignorar as suas fraquezas e deslizes. Para ele, era mais válido acreditar no esforço para a realização de algo bom do que na tendência desastrosa de um ato ruim. Para ele, ainda que coisas terríveis aconteçam, como a própria guerra, por exemplo, seria possível encontrar luz no fim do túnel graças ao esforço de homens e mulheres que não se deixam levar pela escuridão. Uma lição valiosa que pode ser encontrada muito antes da história sobre um pequeno príncipe longe de seu planeta e de um aviador perdido no deserto. 

O Pequeno Príncipe
“O essencial é invisível aos olhos …” O Pequeno Príncipe é uma das obras literárias mais lidas no mundo e isto se deve à sua capacidade de relevar, a cada pessoa, significados diferentes, profundos, diante de uma história aparentemente simples. Este livro é um dos favoritos de todos os apaixonados por literatura. , até quem não tem hábito de leitura, se encanta pela doçura do pequeno príncipe. Ilustrado com as aquarelas do autor, a obra narra a amizade entre um piloto perdido no deserto e seu amigo inesperado, o pequeno príncipe. O livro se tornou o terceiro mais vendido no mundo!

Fonte de Informações:
https://www.bpp.pr.gov.br/Candido/Noticia/Voando-Alto-licoes-de-Saint-Exupery-para-o-seculo-XXI
Texto adaptado da crônica de Jocê Rodrigues, escritor, jornalista e host do podcast Indiciário.