Aymberê – O Primeiro “Herói” Nacional

Aymberê – O Primeiro “Herói” Nacional

Aymberê é, sem sombra de dúvida, o primeiro e um dos maiores heróis nacionais. Sua luta contra os invasores lusos é inesquecível. Conhecer sua história é conhecer o espírito guerreiro de todo nosso povo. Algumas cidades, como São Paulo, homenagearam Aymberê, colocando seu nome em ruas, e outras, no litoral, reconhecem a importância da Confederação dos Tamoios e de seu primeiro líder, Cunhambebe.

Dentre as lideranças da resistência indígena, o jovem Aymberê ocupou importante posição por articular os indígenas, de várias etnias, contra o inimigo em comum: os portugueses, representantes da expansão da dominação européia em solo brasileiro. Aymberê, filho do Cacique Kairuçu foi aprisionado com seu pai e trazido a São Paulo de Piratininga para servir de escravo nas fazendas do então governador Brás Cubas. Pelos maus tratos dos escravocratas seu pai morre em cativeiro. Aymberê e seus parentes tinham como única saída a fuga.

Aymberê
“O Último Tamoyo”, óleo sobre tela, de Rodolpho Amoêdo, retratando a morte do cacique Aymberê, atendido por um padre jesuíta. A obra faz parte do acervo do Museu Nacional de Belas Artes

O jovem índio conseguiu se libertar e libertar os demais indígenas cativos. Na fuga, em direção a Niterói passa por diversas aldeias e incentiva os índios a lutarem contra o inimigo. Neste percurso promove vários encontros com caciques e articulam o ataque. A Confederação dos Tamuyas (ou Tamoios) foi constituída por mais de 7 povos indígenas do Rio de Janeiro e São Paulo – há relatos de índios vindo de Minas Gerais, Espírito Santo e Bahia, inclusive os Guaianases, aliados dos portugueses fizeram parte dela mais tarde.

Apesar de contida pelos portugueses, num ato covarde e de traição, em 1567, a Confederação dos Tamoios resistiu até por volta de 1574. Aymberê foi o protagonista deste feito até então inimaginável no contexto da época: ele reuniu tribos e povos rivais, que lutavam entre si por território a lutar contra o inimigo comum e após a morte de Cunhambebe ele lidera a Confederação dos Tamoios. Podemos considerar que foi a primeira luta organizada por libertação, contra a escravatura, contra a dominação em solo brasileiro. Provavelmente o que inspirou outras insurreições posteriores.

Em abril comemora-se o Dia do Índio, mas poucos sabem que o maior episódio da resistência indígena no Brasil foi em Saquarema. A Confederação dos Tamoios ocorrida no início do processo de colonização do país, no século 16, foi um momento heroico da história dos nativos brasileiros, especialmente da nação Tupinambá, que ocupava grande parte do litoral, quando os portugueses aqui chegaram. O escritor e pesquisador Paulo Luiz Oliveira lançou o livro Tamoios, Senhores do Litoral, editado pela Tupy Comunicações, que revela aspectos até então encobertos, entre eles o fato de que possivelmente a batalha decisiva da Guerra dos Tamoios teria sido em Sampaio Corrêa, antigo Campo de Maranguá.

Aimberê e os Tamoios
Aimberê e os Tamoios

A História de Aymberê e do massacre do povo Tupinambá
Após um ano do tratado de paz os portugueses violaram o acordo voltando a caçar índios para o trabalho escravo sem protesto dos Jesuítas. Em São Vicente as aldeias eram atacadas e desapareciam na voragem das chamas. Cadáveres nas selvas e nas praias, atestavam o barbarismo do colonizador.
Quem desembarca na estação das barcas, em Niterói, não pode deixar de notar uma grande estátua de Araribóia, chefe dos temiminós(*) e grande colaborador dos invasores portugueses. Do outro lado da Baía de Guanabara, porém, não há nenhum monumento ao grande líder da Confederação dos Tamoios, Aymberê, cuja bravura e gênio militar chegou a ameaçar a existência da colônia portuguesa no Sul do Brasil. Ao contrário de Aymberê, primeiro herói nacional, Araribóia, índio que colaborou com os portugueses, tem estátua com sua imagem em Niterói, RJ.

(*) Os temiminós, também chamados temininós, timiminós, tomominos e tegmegminos, foram uma tribo tupi que habitou a Ilha do Governador, São Cristóvão, Niterói e o sul do atual estado do Espírito Santo, no Brasil, no século XVI. Era inimiga tradicional dos seus vizinhos tupinambás na baía de Guanabara mas possuía muitos traços culturais em comum com estes e com as outras tribos tupis, tais como a língua, crenças, costumes como o canibalismo ritual e a agricultura de subsistência baseada em queimadas.

A Confederação dos Tamoios foi a primeira experiência de uma frente ampla contra a invasão portuguesa ao Brasil, ocorrida no ano de 1500. Este movimento reuniu, além de índios tupinambás, que eram maioria, os membros das tribos goitacazes, aimorés e outras menores na área litorânea que vai de Bertioga (São Paulo), até Cabo Frio (estado do Rio).

A origem do nome da Confederação é uma homenagem a uma pequena tribo, da nação dos tupinambás, que tinha esse nome e era muito lutadora e cheia de malícia, bastante sacrificada na luta contra os invasores, em razão da resistência oferecida aos “peros”, como eram conhecidos os portugueses pelos índios. Deu-se então seu nome ao movimento que agrupou várias tribos, além do fato de Tamoio também significar “dono da terra”.

Aymberê foi o grande articulador político, visitando os chefes de tribos, convocando-os para uma reunião na Gávea (RJ), em 1563. Ali foram discutidas questões relacionadas ao problema da chefia e os planos de guerra. Entre os líderes presentes figuravam vários tupinambás como Pindobuçu, Coaquira, Jagoanharó, Cunhambebe, Araraí e Parabuçu. Aymberê propôs que a chefia fosse entregue a Cunhambebe, que vivia com sua tribo na região de Angra dos Reis e era o mais experiente e feroz inimigo dos peros.

Os demais chefes concordaram, apesar de preferirem Aymberê à frente. A primeira tarefa do novo chefe foi conferenciar com o francês Villegagnon, que havia acabado de chegar ao Brasil (1555), para estabelecer a França Antártica, e parece que esse encontro teve resultado positivo, uma vez que, posteriormente, foram encontrados canhões na aldeia de Angra dos Reis.

Cunhambebe, porém, ficou pouco tempo na liderança. O herói de tantas batalhas contra os invasores não morreu combatendo aqueles que tentavam escravizar seu povo. Uma epidemia de peste acometeu a sua aldeia, levando muitos e, entre eles, o velho chefe. Assim, nova reunião foi convocada e Aymberê foi aclamado unanimemente chefe da confederação. Na ocasião foi também discutida uma ação de grande envergadura que iria popularizar ainda mais a Confederação dos Tamoios.

Em encontro posterior, convocado por Coaquira, o mais velho entre os chefes, este fala de paz; não uma paz covarde, mas aquele certo recuo devia estar relacionado ao extremo cansaço de todos. Porém, Aymberê usa a palavra e também fala de paz, mas diz que esta só seria conseguida quando a Confederação se tornasse uma força indestrutível e temida pelos portugueses. Aprovada tal proposta, foram enviados emissários a todas as tribos ao norte e ao sul, com convites para seu ingresso na confederação. A tarefa mais difícil ficou a cargo de Jagoanharó, que ficou encarregado de convencer seu tio, Tibiriçá, chefe dos guaianazes, a integrar a confederação.

Quem foi Aymberê Tupinambá
Quem foi Aymberê Tupinambá? – Imagem extraída de Wyka Kwara

Tibiriçá era também um velho chefe que havia se convertido ao catolicismo pelos jesuítas; se vestia à moda européia e se tornara colaborador dos portugueses. Jagoanharó é bem recebido pelo tio, que ouve os planos de um ataque massivo dos tamoios e sugere que este seja desfechado duas luas após, sem, no entanto, afirmar que concordava com a ação. Voltando, Jagoanharó submete a sugestão de Tibiriçá ao Conselho da Confederação. Apesar das dúvidas sobre a sinceridade da proposta, ela é aprovada.

No dia aprazado, partem os combatentes tamoios, tendo à frente Aymberê, que tinha como auxiliares Parabuçu, Guaixirae, Okijuba e Cunhambebe II, este último chefiando uma coluna de goitacazes e aimorés. Quando chegam ao lugar combinado encontram Tibiriçá, que vem como vanguarda dos portugueses para dar combate aos Tamoios. Jagoanharó é abatido pelo tio, traidor de seu próprio povo.

Neste ataque, a estratégia de Aymberê consistia em atrair os “peros” para o litoral e cansá-los na perseguição, deixando-os a descoberto e ao alcance das flechas. E assim aconteceu. A vitória foi completa, flechas e tacapes atingiam o alvo infalivelmente, tendo morrido Tibiriçá e Fernão de Sá, filho do governador geral, Mem de Sá, que era um dos chefes portugueses na batalha.

Os portugueses de Piratininga, assustados com a derrota, apesar da superioridade em armas, ansiavam pela paz com os tamoios, e apelaram para seus amigos jesuítas, que os acudissem nessa hora de desespero. Assim, partem Nóbrega e o Padre Anchieta para conferenciar com o Conselho da Confederação, na intenção de negociar uma paz entre nativos e invasores. Os tamoios odiavam tanto os portugueses que, ao saberem que os padres eram dessa nacionalidade, recusaram qualquer entendimento. Porém, Coaquira, um chefe prestigiado e que simpatizava com os jesuítas, convenceu os demais chefes a comparecer à conferência.

Os falaciosos religiosos diziam que os portugueses queriam a paz definitiva e não descumpririam a palavra dada por sua iniciativa. Os tamoios exigiam, para a paz, que os líderes indígenas traidores fossem entregues à confederação e que todos os índios tornados escravos pelos portugueses fossem libertados. Os Jesuítas pedem então para conversar com as autoridades portuguesas, já que não poderiam decidir sobre essas condições.

Aymberê decide então que irá negociar com os portugueses em São Vicente, mas que o s jesuítas ficariam como garantia de sua volta. Além de negociar a paz, Aymberê também desejava encontrar e libertar sua noiva, Igaraçu, que havia sido aprisionada e feita escrava em uma fazenda.

Os portugueses exigiram a presença de Nóbrega e Anchieta, mas Aymberê respondeu não confiar na palavra dos “peros”, que sempre a descumpriam. O impasse foi resolvido com o retorno de um dos padres, Nóbrega, que finalizou as conversações, fazendo-se a paz.

Os chefes indígenas que haviam lutado ao lado dos portugueses, como Tibiriçá e Caiubi, haviam morrido, restando a libertação dos índios feitos escravos, o que foi feito pelo próprio Aymberê, que regressava ao local da reunião com os jesuítas. Igaraçú, sua noiva, fora libertada no momento em que era chicoteada por Heliodoro Eoban, que foi preso, junto com sua família e apresentado a Aymberê, que o libertaria depois.

Durante a expedição que libertou os índios, Aymberê notou que a estrutura de defesa dos portugueses não resistiria a um ataque massivo dos tamoios. Os portugueses ficaram revoltados com a paz, pois assim não teriam mão-de-obra para as fazendas, uma vez que era mais fácil, nessa época, escravizar os índios que importar negros da África.

No período de paz, que durou um ano, a confederação, com a ajuda de franceses, desenvolveu a produção de tecidos em teares manuais, principalmente na aldeia de Uruçumirim (praia do Flamengo), e a criação de bovinos e equinos. As matrizes e primeiros teares foram conseguidos com os integrantes da aventura colonialista francesa da França Antarctica, que chegava ao fim. Alguns franceses, no entanto, permaneceram no Brasil para viver com os tamoios.

Após esse ano de trégua, os apresamentos de indígenas recomeçaram com maior intensidade, extinguindo a possibilidade de coexistência pacífica na colônia. Centenas de índios foram capturados e levados para o planalto como escravos. E esse ano de paz foi aproveitado pelos portugueses para reforçar e aumentar o seu exército. Homens, armas e munições foram trazidos de Portugal. Sabendo disso, os tamoios preferem utilizar outra tática: patrulhas ao invés de colunas. A guerra seria feita de acordo com as possibilidades e conveniência dos tamoios; o mínimo contra o máximo. Os homens se embrenhavam nas florestas e, à noite, saltavam sobre os engenhos e fazendas de portugueses para destruí-los, juntamente com os que os defendiam.

Pelo curso do rio Paraíba, os tamoios seguiam em embarcações repletas de guerreiros, escolhendo o melhor lugar para atacar, semeando o pânico entre os lusos. Estácio de Sá acabava de chegar de Lisboa com uma frota de galeões bem armados, disposto a ocupar o Rio de Janeiro. Araribóia, aliado dos portugueses, chefiando os índios temiminós, que trouxera do Espírito Santo, seria a vanguarda dos portugueses, durante o desembarque da tropa. Posteriormente, Araribóia receberia a sesmaria de Niterói pelos serviços prestados a Portugal e seria batizado, pelos jesuítas, de Martim Afonso de Sousa, mesmo nome do português que desembarcou no Brasil em 1530. Conhecendo a bravura de Aymberê, Estácio de Sá queria reunir a maior força possível. juntou, então, homens de São Vicente e da Bahia, levando mais um ano nesse trabalho de arregimentação.

Algumas escaramuças entre pequenos grupos de tamoios e missões de reconhecimento portuguesas deram a falsa impressão de vitória sobre os peros, mas não era assim que pensava Aymberê. Ele sabia que os portugueses já estavam satisfeitos com o reconhecimento feito e que voltariam em breve.

Alguns navios franceses chegaram a Cabo Frio e Aymberê enviou seu genro Ernesto, francês, conhecido como Guaraciaba (cabelo de fogo), como emissário para convencer os “mairs”, como eram conhecidos os franceses pelos índios, a unirem suas forças com os tamoios. Os franceses concordaram, já que sabiam ser impossível voltar a comercializar com os índios se os portugueses saíssem vitoriosos, e estabeleceu-se o plano: os franceses entrariam pela Baía da Guanabara com suas naus, enquanto os índios atacariam com aproximadamente 160 canoas e 1.500 guerreiros.

O ataque, no entanto, foi frustrado. As defesas portuguesas eram mais sólidas do que imaginavam os tamoios; os navios franceses eram facilmente rendidos, o que obrigou Aymberê a desviar uma parte de suas canoas em defesa dos aliados.

Nesse ínterim, os tamoios foram obrigados a recuar, fato que foi aproveitado pelos invasores. Eles empreenderam uma grande ofensiva, destruindo as aldeias, queimando as habitações e aprisionando grande contingente de indígenas.

A vantagem dos tamoios nos combates corpo a corpo e de surpresa se viu anulada pela superioridade em armas dos invasores e a mudança para uma guerra de posição extremamente desfavorável à Confederação. Os tamoios ficaram reduzidos a uma estreita faixa de território, que ia da Carioca até o Paranapuan (atual Ilha do Governador), onde resistiram ainda por mais um ano.

Enquanto os portugueses basearam-se na área do morro Cara de Cão, próximo ao Pão de açúcar, Aymberê pensou fortificar a aldeia de Uruçumirim, na intenção de vencer os invasores pelo cansaço, resistindo indefinidamente, o que não era correto, já que os portugueses estavam constantemente recebendo reforços, armas e munições. Nesse caso, o tempo não contava a favor dos tamoios, mas dos invasores.

Mem de Sá resolve vir em auxílio de seu sobrinho Estácio, e une sua frota à que já se encontrava na baía, formando uma força impossível de ser vencida pelos tamoios. Sabedor disso, Aymberê reúne seus comandados e resolve defender sua terra até a morte, dispensando os aliados franceses para fugirem, se quisessem salvar sua vidas, mas todos resolvem lutar e morrer como tamoios.

No dia 20 de janeiro de 1567, centenas de portugueses e temiminós foram ao encontro dos bravos Tamoios. Milhares de flechas cruzaram o céu ao ribombar dos canhões e tiros de escopetas. Os combates corpo a corpo deixaram as águas da Guanabara tingidas de sangue. Nas praias jaziam corpos de índios e portugueses que as ondas teimavam em sepultar. Após 48 horas de combate estava arrasado o último reduto dos Tamoios. Seus chefes estavam mortos, Aymberê, Igaraçu, Pindobuçu e seu filho Parabuçu, o bravo francês Ernesto e sua mulher Guaraciaba tiveram suas cabeças cortadas e espetadas em estacas por que, segundo Anchieta: “Daquela raça maldita de Tamoios, nada haveria de subsistir nas terras conquistadas pelos portugueses”.

Estácio de Sá, o principal comandante do massacre foi ferido naquele dia 20 de janeiro por uma flecha, e morreria um mês depois. Seus ossos foram exumados e se encontram hoje na Igreja de São Sebastião (dos Capuchinhos) no Rio de Janeiro. Quanto aos ossos de Aymberê, quem os descobriria nos corpos degolados, massacrados, mutilados e esquartejados, por colonizadores “cristãos” da estirpe dos Mem de Sá, Estácio, Anchieta, Pedro Leitão e traidores como Arariboia?.
“Os ossos de Aymberê ficaram sepultados no coração e na memória de todos os verdadeiros patriotas que amam esta terra maravilhosa”.

Os Tamoios foram destruídos, mas até hoje permanecem os traços da cultura indígena na toponímia local, em nomes como Saquarema, que vem de “socó-rema”, que quer dizer bandos de socós, ave pernalta muito comum na lagoa. Também ficaram impregnados em nossa gente usos e costumes nativos e uma tradição alimentar como é o caso do beiju, feito de tapioca, que se chamava em tupi “ibeiju” e moqueca que vem de “moquém”, onde se assava o peixe em folha de bananeira, chamada “pokeka”. A tradicional sola, com coco ou amendoim, e as esteiras de tabua ainda são vendidas nas feiras.

Fontes das Informações:
https://www.osaqua.com.br/2013/05/09/a-grande-batalha-da-confederacao-dos-tamoios-foi-em-saquarema/
https://anovademocracia.com.br/no-9/1146-o-monumento-ausente
https://pt.wikipedia.org/wiki/Confedera%C3%A7%C3%A3o_dos_Tamoios
https://opaymbere.wordpress.com/quem-foi-aymbere/