A história de um povo pode ser narrada de maneiras surpreendentes, e uma delas é observando os nomes das ruas de uma cidade. Cada nome de rua carrega consigo um pedaço da memória coletiva, um testemunho das pessoas, acontecimentos e valores que marcaram uma comunidade ao longo do tempo. No terceiro centenário de Ubatuba, em 28 de outubro de 1.937, o Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo organizou e sugeriu um grande evento para a nossa cidade, um dos maiores, já ocorrido em Ubatuba.

Dentre as sugestões, várias ruas da cidade receberiam nomes de pessoas ilustres ligadas direta ou indiretamente a nossa história. Neste post, trazemos um pouco desta narrativa e citamos algumas ruas e seus homenageados.
Dona Maria Alves
Dona Maria Alves doou em 1542, uma légua de quadra de terra que ganhou da Condessa de Vimiero à Jordão Homem da Costa, onde ergueu-se na Aldeia de Iperoig, uma Câmara, uma cadeia e a Igreja Matriz, era o que precisava na época para se formar uma aldeia. Naquela época o Brasil estava dividido em capitânias hereditárias e estas em Sesmarias. Foi este, o primeiro passo dado para a ereção do povoado, primitivamente denominado Iperoig.

O ato de desprendimento de D. Maria Alves, deu ensejo à formação do núcleo social e à criação de Ubatuba, cidade que já foi chamada de a “Pérola do Litoral Norte” do Estado de São Paulo. Os arquivos da cidade e as crônicas dos historiadores, não fornecem dados precisos sobre a relevante individualidade de D. Maria Alves, impedindo assim um conhecimento mais profundo, de tão insigne figura feminina. A sede da prefeitura de Ubatuba situa-se nesta rua. Uma curiosidade é que o nome antigo era Rua do Comércio.
Jordão Homem da Costa
Foi um dos colonizadores desta parte do litoral. Descendente de nobre estirpe portuguesa natural da Ilha Terceira. Chegou ao Brasil no início do século XVII, quando o governador Salvador Correia de Sá e Benevides, a mando deste, transportou-se com sua família para estes sítios. Recebeu de Dona Maria Alves, as terras e foi fundador de Ubatuba em 28 de Outubro de 1637.

Félix Guisard Filho
Félix Guisard, empresário brasileiro, nasceu em Teófilo Otoni, em 22 de janeiro de 1862 e faleceu em Taubaté, em 29 de março de 1942, aos 80 anos, era assíduo frequentador de Ubatuba e virou nome de rua na cidade. Seus pais, Louis-Félix Guisard e Amélie Mallet Caillaud, eram franceses, que se refugiaram no Brasil após o Golpe de Estado na França efetuado por Luís Napoleão Bonaparte em 2 de dezembro de 1851.

Félix Guisard Filho foi médico, político, historiador e em Ubatuba, foi proprietário do emblemático Sobradão do Porto. Em maio de 1933, Guisard fez uma excursão com seus filhos mais velhos pela Serra do Mar. A viagem durava mais de dez horas, devido às condições da estrada. Poucos se aventuravam pela serra de carro, além de ser um trajeto complicado em meio à mata, havia o perigo do ataque de onças.

No entanto, ao chegar a Ubatuba e se maravilhar com aquela natureza intocada, Félix fez seus planos: Em 1937, sua empresa gastou mais de 142 contos de réis com as férias remuneradas dos funcionários, e providenciou para a viagem a Ubatuba o transporte em carros e caminhões, proporcionando ainda bailes, cinema e diversos passeios. A construção de uma Colônia de Férias apropriada foi concluída em 1941. Ubatuba muito deve a esse ilustre mestre e, em agradecimento, nomeou uma de suas ruas de “Félix Guisard Filho”.
Hans Staden
Nascido em Homberg-em-Hessen, Alemanha, embarcou para o Brasil em 1547, e em 1549 viajou pela segunda vez, chegando a São Vicente e depois Bertioga. Hans Staden era sempre contratado como artilheiro, e foi defendendo o forte São Felipe que os tupinambá o capturaram. De lá veio para Ubatuba onde conviveu com os indígenas durante 9 meses e meio, até conseguir um navio francês, o “Catherine de Vetteville”, que o levou de volta à Alemanha. Staden relata essa e outras aventuras no livro “Duas Viagens ao Brasil”, publicado em Marburgo, Alemanha, em 1557, e com mais de 50 edições em vários idiomas.

Hans Staden registrou de forma majestosa e detalhada sua estada nas terras novas, e escreveu o que seria o primeiro livro sobre nosso país, seu povo e o modo de vida. O livro constitui-se num sucesso editorial devido às suas ilustrações de animais e plantas, além de descrições de rituais indígenas e costumes exóticos.
Dr. Esteves da Silva
O Dr. Esteves da Silva, de família humilde ,passou por grandes dificuldades para completar seus estudos, e tornou-se sensível às carências dos menos favorecidos principalmente no tocante à educação.

Criou em Ubatuba a escola noturna Ateneu Ubatubense, lecionando gratuitamente. Foi um dos políticos mais respeitados do seu tempo, elegendo-se algumas vezes vereador e também, deputado estadual em 1898. Por várias vezes buscou na Câmara dos Deputados em São Paulo, ajuda para o litoral norte.

Publicou ainda uma bela monografia, que minuciosamente detalhava as possibilidades econômicas de Ubatuba, através de suas riquezas, chamava-se “Ubatuba Médica”. Esta facilidade com a escrita e a vontade de discutir assuntos pertinentes ao futuro de Ubatuba, fez com que lançasse o primeiro jornal da cidade, o “Echo Ubatubense”.
Thomaz Galhardo
Comendador Thomaz Paulo do Bom Sucesso Galhardo, da Ordem de Ubatuba, nasceu em 29/12/1855. Destacou-se, sobretudo como educador; autor de vários livros didáticos, uma de suas obras, “Monografia da letra A”, foi logo citada por Rui Barbosa em sua crítica a redação do Código Civil.

Elaborou o regulamento do Ginásio do Estado e da Escola Politécnica, recebendo os maiores elogios da Secretaria de Educação. Tio de Gastão Madeira, Thomaz Galhardo foi um homem de vanguarda. Faleceu em 30/06/1904, aos 49 anos de idade.

Cel. Ernesto de Oliveira
Ernesto Gomes de Oliveira era um homem de origem humilde, filho de modesto carpinteiro, reconhecidamente inteligente e esforçado. Autodidata, alcançou apreciável cultura para melhorar situar-se no meio acanhado e pobre em que vivia na decadente Ubatuba. Dedicando-se a várias atividades, ainda jovem, quase criança, foi trabalhar no cartório do único tabelião da comarca. Anos mais tarde prestou concurso perante o Tribunal de Justiça do Estado e habilitou-se ao exercício. Era casado com Maria Hilário do Prado, era irmão de Deolindo de Oliveira Santos e pai de Washington de Oliveira (Seu Filhinho).

Salvador Correia
Salvador Correia de Sá e Benevides nasceu na cidade do Rio de Janeiro, em 1594 (*). Sobrinho bisneto de Mem de Sá, filho de Martim de Sá e neto de Salvador Correia de Sá. Foi vulto de grande projeção na história do Brasil colonial. Foi um militar do império ultramarino português que, durante a Guerra da Restauração, ao serviço do reino de Portugal, se destacou no comando da frota que, em 1647, reconquistou Angola e São Tomé e Príncipe, terminando a ocupação holandesa. Entrou para o serviço militar em 1612 (aos 18 anos), distinguindo-se brilhantemente nas armas. Em 1624, com 200 homens, em duas naus e 4 canoas, foi enviado por seu pai à Bahia a fim de expulsar os holandeses. Foi mediador entre os indígenas e os colonizadores paulistas, encerrando grave conflito existente na Capitania de São Vicente. Deteve o Governo do Rio de Janeiro por três vezes (1637-1642, 1648 e 1659-1660).

Foi governador da capitania do Sul do Brasil (1659-1662); governador de Angola (1648-1651) e Almirante da Costa do Sul e Rio da Prata com superintendência em todas as matérias de guerra; administrador de todas as Minas do Brasil e Conselheiro dos Conselhos de Guerra e Ultramarino. Ordenou a Jordão Homem da Costa a fundação de Ubatuba em 1637. (*) Existe uma controvérsia sobre o nascimento de Salvador Correia de Sá e Benevides. No Brasil e Angola, defende-se que tenha nascido no Rio de Janeiro, em 1594. Em Portugal, diz-se que nasceu em Cádis, em 1602
Cel. Domiciano
Coronel Luís Domiciano da Conceição nasceu em Ubatuba, por volta de 1880. trabalhador, destacando-se entre os seus companheiros de infância. Farmacêutico e professor, dedicou-se ao magistério público (foi um dos diretores do Grupo Escolar Dr. Esteves da Silva). Chefe político, trabalhou sem poupar esforços e sacrifícios em prol de Ubatuba.

Já aposentado, doente, submeteu-se a uma delicada cirurgia em 1916, manteve sua modesta farmácia quase que exclusivamente destinada aos pobres. Foi merecidamente homenageado por sua cidade.
Baltazar Fortes
Manuel Baltazar da Cunha Fortes foi antes de tudo e de todos, um autentico pioneiro. Veio de Portugal, pobre, analfabeto e humilde. em 1808, junto com a Corte Portuguesa,

Em Ubatuba tornou-se proprietário de tropas, comissário de café e de sal e armador de navios. Por seu intermédio era canalizado o comércio de entrada e saída do sul de Minas Gerais e do norte de São Paulo. Cidadão respeitável e de honrada família, construiu sua residência, o conhecido Sobradão do Porto em 1846.

Condessa de Vimieiro
Mariana de Sousa Guerra, condessa de Vimieiro, nasceu em Lisboa em 1570 e se tornou uma fidalga portuguesa. Foi a 4ª donatária da Capitania de São Vicente e a 1ª donatária de Capitania de Itanhaém. Esta condessa faz parte de nossa história, pois, devemos a ela a nobreza de ceder as terras para criação de Ubatuba, pois, como donatária da Capitania de São Vicente, doou vasta extensão de terras à Dona Maria Alves, esta que, doou em 1542, uma légua de quadra de terra que ganhou à Jordão Homem da Costa, onde ergueu-se a Aldeia de Iperoig, que compõe hoje o território de Ubatuba.

Cunhambebe
Este cacique era o chefe supremo da nação tupinambá, índios guerreiros, que dominavam a região compreendida entre Cabo Frio (RJ) e Bertioga (SP), além de parte do Vale do Paraíba. Foi aliado dos franceses, inimigo dos portugueses e personagem importante na história brasileira, na unificação de nosso país ao aceitar o acordo de paz.

O padre José de Anchieta teria encontrado Cunhambebe em Yperoig, atual cidade de Ubatuba, para as negociações que deram origem ao Armistício de Yperoig (ou a “Paz de Iperoig), o primeiro tratado de paz conhecido no continente americano em 14 de setembro de 1563, colocando fim à chamada Confederação dos Tamoios, que ameaçava São Vicente e a supremacia portuguesa no sudeste do Brasil.
Dom João III
Com a morte prematura, aos 52 anos, do rei de Portugal, D. Manuel em 1521, o infante D. João, seu filho, tornou-se rei com o nome D. João III com apenas 19 anos, apelidado de “O Piedoso”. Em 1525 casou-se com a infanta espanhola, Dona Catarina, irmã do imperador Carlos V. Foi D. João III que instituiu as capitanias donatárias, as conhecidas capitanias hereditárias no Brasil. Fundou o primeiro Governo Geral e elaborou 41 artigos, o que seria “A primeira Constituição Brasileira”

D. João III, em 1534, dividiu o Brasil em 15 faixas de terra, e a administração dessas terras foi entregue aos donatários para colonizarem, as capitânias hereditárias. Dentro das capitânias, tínhamos as sesmarias, que compreendiam 80% do território da capitânia. Os capitães donatários que recebiam capitânias hereditárias detinham apenas 20% de suas capitânias, tendo que distribuir os demais 80% na forma de sesmarias, que era um lote de terras distribuído a um beneficiário, com o objetivo de cultivar terras virgens, dentro de um prazo previamente estabelecido.

Ubatuba nasceu de uma destas sesmarias. Foi o verdadeiro criador do Brasil, que rapidamente se tornou o elemento fundamental do império português, assim o sendo até o início do século XIX. D. João III morreu aos 55 anos (7/06/1502 –11/06/1557), deixando o trono de Portugal nas mãos de seu neto, D. Sebastião, uma criança de dois anos e que só assumiria o poder em 1568 aos 14 anos.
Leovigildo Dias Vieira
Leovigildo, ou “Seu Vivi” como era chamado, era donatário de terras no bairro do Itaguá, proprietário da Fazenda Lagoa, as margens do rio Lagoa. Além do cultivo de arroz, feijão, cana-de-açúcar, mandioca, batata-doce, produzia-a farinha de mandioca, o melado, açúcar mascavo e a famosa pinga Jacaré.

A fama da fazenda era por causa da pinga, uma das melhores da região; um produto tipo exportação, levado para a cidade de Santos e de lá para outros países. A pinga era engarrafada em curiosos garrafões de cinquenta litros, que eram transportados em canoas de voga, para todas as cidades do litoral norte e sul.
Idalina Graça
A Solitária de Iperoig, pseudônimo de Idalina do Amaral Graça, foi, indiscutivelmente, uma das personagens mais notáveis e marcantes na vida de Ubatuba.

Com a ajuda de amigos dedicados, entre eles o Mecenas brasileiro, Francisco Matarazzo Sobrinho, editou seu primeiro livro, intitulado “Terra Tamoia”, preciosa obra literária, e posteriormente editou “Bom dia Ubatuba”. Estava em andamento, uma terceira obra quando a morte traiçoeira veio arrebatá-la do nosso convívio.

Idalina, mulher excepcional, tem seu nome homenageado em rua na Praia das Toninhas e em escola de Ubatuba: EMEI Idalina Graça.
“Povo que não tem memória, não tem nada pra contar”, que se diga e repita esta frase essencial de Idalina Graça, a primeira escritora de Ubatuba.
Gastão Madeira
Gastão Galhardo Madeira, nasceu em Ubatuba em 20 de junho de 1869, e é considerado um dos precursores da aviação, Deixou a cidade com sua família aos dois anos de idade, passando a morar em algumas cidades próximas da região como em São Luiz do Paraitinga, Guaratinguetá, Caçapava, para fixar finalmente residência na capital de São Paulo, aos 12 anos de idade.

Em 1912 Gastão Madeira projetou um novo aeródino, o Brasil – S. Paulo e no ano seguinte ele dirigiu uma petição ao Senado do Estado de São Paulo solicitando subsídios para uma viagem de experiências à Europa. Um de seus artigos “O princípio do voo dos pássaros”, traz inúmeras ilustrações do trabalho de campo e de observação e Gastão foi reconhecido, no ano de 1927, como o pioneiro da aviação mundial, levando o seu nome a figurar ao lado de Santos Dumont e de Bartolomeu de Gusmão.

Seus méritos de precursor da aviação foram reconhecidos quando do voo transatlântico do “Jaú” em 1927 e mais tarde, ao ser celebrado o III Centenário de Ubatuba, em 1937. Gastão Madeira faleceu em 4 de abril de 1942, e além de nome de rua na cidade, a denominação dada ao aeroporto localizado no centro de Ubatuba de “Gastão Madeira” foi uma homenagem prestada ao ilustre filho desta estância balneária.
Aymberê
Aymberê é, sem sombra de dúvida, o primeiro e um dos maiores heróis nacionais. Sua luta contra os invasores lusos é inesquecível. Conhecer sua história é conhecer o espírito guerreiro de todo nosso povo. Dentre as lideranças da resistência indígena, o jovem Aymberê ocupou importante posição por articular os indígenas, de várias etnias, contra o inimigo em comum: os portugueses, representantes da expansão da dominação europeia em solo brasileiro.

Aymberê, filho do Cacique Kairuçu foi aprisionado com seu pai e trazido a São Paulo de Piratininga ser escravizado nas fazendas do então governador Brás Cubas. Pelos maus tratos dos escravocratas seu pai morre em cativeiro. Aymberê e seus parentes tinham como única saída a fuga. O jovem indígena conseguiu se libertar e libertar os demais indígenas cativos. Na fuga, em direção a Niterói passa por diversas aldeias e incentiva os indígenas a lutarem contra o inimigo.
Professor Joaquim Lauro
Joaquim Lauro Monte Claro Neto que dá nome à estradinha que leva até o Cais do Porto (Caisão), foi um cidadão natural de Lorena, SP, que migrou para Ubatuba para lecionar, sendo professor e diretor no Colégio Esteves da Silva e grande incentivador das corridas de canoa. Foi um dos responsáveis pela travessia de canoa Ubatuba-Santos. Esses são alguns exemplos das ações deste personagem de Ubatuba, cidade que adotou até o fim da vida junto com sua esposa Dona Zezé.

Habilidoso o professor fazia e ensinava vários trabalhos manuais, aproveitando os recursos cedidos pela natureza e lecionou esta matéria no Ginásio Estadual Capitão Deolindo de Oliveira Santos, bem como ensinou também Educação Moral e Cívica. O Prof. Joaquim Claro faleceu aos 80 anos em Lorena, sua cidade natal, em 15/07/1997, e atualmente cede seu nome à estrada que leva ao cais do porto, Estrada Municipal Prof. Joaquim Lauro Monte Claro Neto.
Fonte de Informações
https://turismo.ubatuba.sp.gov.br/pontosturisticos/
https://ubatubense.blogspot.com/2009/05/granes-ubatubenses-dona-maria-alves-e.html
https://ubatubense.blogspot.com/2012/07/especial-livro-ubatuba-espaco-memoria-e_29.html
Livro ” Ubatuba , espaço, memória e cultura ” – Ed. 2005 , por Jorge Otavio Fnseca e Juan Drouguet
João III de Portugal – Wikipédia, a enciclopédia livre