“Seu” Zé Pedro – Mestre Quilombola

“Seu” Zé Pedro – Mestre Quilombola

O líder Mestre Quilombola “Seu” Zé Pedro, expoente da cultura dos povos de Comunidades Tradicionais da Região Norte de Ubatuba, sempre manteve a tradição do quilombo com seu cuidado e proteção do patrimônio histórico, cultural e ambiental, preservando a Casa da Farinha, unindo a comunidade do Quilombo Fazenda Picinguaba em torno de atividades beneficiando a tradição.

Edson Conti (Curiosidades de Ubatuba e Seu Zé Pedro" na Casa da Farinha
Edson Conti (Curiosidades de Ubatuba e Seu Zé Pedro” na Casa da Farinha

“Seu” Zé Pedro, foi uma das personalidades de Ubatuba, muito respeitada pelas Comunidades Quilombolas, Indígenas e Caiçaras (ou Tradicionais como ele chamava), uma referência de liderança natural e prestigiado por celebridades e políticos em geral. A Casa da Farinha, onde ele residiu já funcionou como um engenho de cana de açúcar no início da colonização do país. As ruínas apresentam uma roda d’água e todas as ferramentas necessárias para a fabricação de farinha de mandioca. Atualmente é utilizada pelos produtores locais de mandioca e também apreciada como monumento histórico, uma tecnologia patrimonial de importante valor cultural, social e econômico.

Casa da Farinha
Casa da Farinha

História
O Mestre quilombola Zé Pedro, neto de escravos, africanos de Angola, sempre recebeu os visitantes com muita paciência, e adorava contar as histórias que viveu desde que se mudou para a Casa da Farinha na década de 1960. Seu nome verdadeiro é José Vieira, nasceu em Cunha – SP em 30/11/1938, e é conhecido como José Pedro por causa de seu pai que se chamava Pedro José Vieira, este que já conhecia o trabalho em Casa de Farinha, Moinho de Fubá, Alambique e Olaria e que passou seus conhecimentos para o “Seu” Zé Pedro.

Com 13 anos de idade, trabalhou no calçamento de pedra da estrada que liga Cunha a Paraty, com 18 anos se casou, morou em Paraibuna, apenas 3 meses e em seguida a pedido do Governo do Estado (Caixa Econômica Estadual), que solicitava a presença de 12 famílias para trabalhar e ter usufruto, se fixou no Sertão da Fazenda, na Casa da Farinha.

Homenagem ao eterno mestre quilombola "Seu" Zé Pedro - Casa da Farinha
Homenagem ao eterno mestre quilombola “Seu” Zé Pedro – Casa da Farinha

Não existia a rodovia Rio-Santos e os percursos que eram feitos todos por trilha, até Paraty, levava por volta de 5 horas, trilha hoje conhecida como “Trilha do Corisco”, que passa pelo Jatobá, uma árvore centenária (cerca de 1 hora de caminhada), pelo Poço da Rasa (3 horas) e finaliza no bairro do Corisco, já em Paraty. Naquela época, ir até o centro de Ubatuba, gastava cerca de 6 horas, beirando as Praias da Fazenda, Ubatumirim, Justa, Puruba, Léo, Prumirim, Félix, Itamambuca, Vermelha do Norte e Perequê-Açu.

Seu Zé Pedro deixou boas lembranças
Seu Zé Pedro deixou boas lembranças

As travessias dos rios que tem no caminho, eram feitas por “barqueiros” e chegando no Itaguá, muitas vezes não se conseguia hospedagem no único hotel que existia e após rever os amigos, prosear e tomar uma pinguinha, seu Zé Pedro, se recolhia na Praia do Matarazzo, dormindo dentro das canoas dos pescadores. Sempre voltava para o Sertão da Fazenda trazendo mantimentos de primeira necessidade, 10 ou 15 quilos de peso nas costas, o que tornava a caminhada de volta mais cansativa ainda.

Casa da Farinha

Hoje a Casa da Farinha, conta com uma loja de artesanatos e também estão à venda farinha, pé de moleque moído, paçoca de amendoim, rapadura, bananas, pimenta, bolinho de mandioca com queijo frito na hora pela filha de “Seu” Zé Pedro e o livro “Eu tenho um Sonho” que conta as histórias de vida do “Seu” Zé Pedro. A receita destas vendas ajuda e muito as famílias desta Comunidade Quilombola a ter uma condição de vida mais digna. Vale a pena visitar este local e também se aventurar nas trilhas e cachoeiras.

Livro que conta a história de Seu Zé Pedro
Livro que conta a história de Seu Zé Pedro – Escrito por Moacyr Pinto

Seu Zé Pedro nos deixou na madrugada de 18/05/2021. Uma grande perda, personalidade de respeito, de exemplo de superação e muito, mas muito atencioso com todos que visitavam a Casa da Farinha. Com certeza foi acolhido e brilha também em seu novo plano espiritual.

Fontes das informações:
https://www.vivaubatuba.com.br/1o-festejo-do-folclore-da-fazenda-vivendo-com-alegria-a-tradicao-popular/
Livro: Eu tenho o meu sonho – Moacyr Pinto